sábado, 4 de junho de 2011

A tal da Bienal ou a tentação do acaso

A bienal de Montreal começou em 01 de maio e terminou no 31 do mesmo mês. Antes do apagar das luzes, fui dar uma olhadinha e achei tudo muito criativo e interessante. Mas, nada, nadica que se compare à enorme Bienal de São Paulo. A cidade não celebrou tanto a festa da arte contemporânea como eu pensei que o faria, ou sou eu acostumada àquela mancheia de publicidade que sempre tem esse evento no Brasil?

O tema da Bienal foi o clássico poema do escritor Stéphane Mallarmé: “Jamais um lance de dados abolirá o acaso” no Brasil ‘transcriado’ por Haroldo de Campos autor do genial livro-poema Galáxias.  A notícia de que Mallarmé seria o mote para a Bienal me fez ter saudade de quando ouvi pela primeira vez o poema e escrevi num dos meus cadernos de recortes e desenhos que deixei no Brasil. Também de quando li os seus Contos Indianos e descobri na introdução que Mallarmé queria chegar à abstração de inventar uma palavra que não teria significação em língua nenhuma Fiquei tão impressionada que poderia entrar uma mosca na minha boca! Coisa de louco, rapaz... A palavra como imagem, as suas experimentações com o livro como objeto... aquilo...ainda no final do século dezenove me fascina  desde sempre. Mas não vou chatear vocês com divagações pseudofilosóficas, sobre essa abstração toda. A abstração afinal,e stava lá na Bienal. Paradoxalmente, para todo mundo ver e pegar.Nham,Nham!

O que mais me chamou a atenção:
Um Totem,adivinhem de que?De colagens...cheinho delas (estava quase tirando uma foto quando a mocinha simpática avisou que era proibido...droga!) no topo dele a bela frase: ‘Do stupid things, forget perfection’ nem precisa avisar, né?
Tinha também uma sala com paredes brancas e confetes feitos de páginas de livros de grandes escritores...a velha desconstrução da arte, resignificação das coisas...ok,ok a arte não precisa ser necessariamente criativa, só ser, comunicar, seduzir e deixar ver o que vai acontecer.
Me chamou a atenção o vídeo ‘Imobilidade’, que falava sobre a impressão de que se tem das coisas à primeira vista, ao primeiro olhar. E cheguei à conclusão de que essa tal impressão é tão abstrata, tão baseada em coisa alguma, que é feita do mesmo material de um sonho. Bingo!
Gostei também da projeção de palavras num quarto escuro com uma ventania de fazer voar pensamento e um anemômetro. Dava uma sensação de...tempestade de palavras. Algumas voavam pelas paredes, se deslocando como pássaros, outras ficavam ancoradas como barcos e de repente voavam como foguetes. Que nem palavra que fica na garganta com vontade de ser dita, mas com vergonha de se mostrar.
Queria dizer mais algumas coisinhas, mas ... lá vem o metrô me chamando...Marcamos um encontro então para o próximo post?

 


‘Sans les autres Il n’y aurrait pas de hasard’, segundo um artista participante. Hmmm...será?
 (Sem os outros não haveria o acaso)

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