terça-feira, 24 de maio de 2011

Drummond Street

Não é sempre que atravessando a rua numa cidade no meridiano 76° norte, a gente vai pra Minas Gerais. Mas acontecei comigo. Do lado de cá do Monte Real, como que numa rua qualquer de Belo Horizonte, o cenário perfeito: Uma montanha, um vento a eriçar a nuca e uma Rua chamada Drummond...
Tem um tempinho, visitei Minas Gerais com a vontade de lá viver, mas naquele momento as coisas não avançaram. Voltei pra Boa Terra com a vontade guardada de um dia lá me estabelecer definitivamente. Claro que me perguntei se conseguiria morar numa cidade sem o Mar de Caymmi. E muitas vezes. Se conseguiria viver sem brisa, sem cheiro de maresia, sem o mergulho com pés de pato e óculos para ver os peixinhos amarelos do Porto da Barra. Por enquanto, tenho passado no teste por aqui. 
Montreal não tem mar - é o caudaloso São Lourenço que faz as suas vezes - mas tem muitas gaivotas e muito vento. Relendo “Cem dias entre o Céu e o Mar” do Amyr Klink penso nelas como as companheiras da ‘solidão’* e tenacidade de quem decidiu traçar um linha entre  Luderitz (Namíbia) e a Baía de Todos os Santos (Brasil). Aqui entre nós, acho que a minha linha é também ao meu modo meio desbravadora.
 E os ventos? Lembram um tantinho os que derrubaram a casa da Dorothy na fábula do Mágico de Oz de  L.Frank Baum . Vêm do nada, como que chamados por um assovio e se vão com a mesma naturalidade e velocidade de quem pode tirar um cisco do olho da Estátua da Liberdade.
E a rua Drummond nisso tudo? Infelizmente, não foi uma homenagem ao nosso poeta moderno, de poesia destrambelhada – como afirmou Fernando Sabino – foi homenagem a uma moça, esposa de grande comerciante anglófono, a Jane Drummond
Pouco me importa. Pra mim, é a rua do poeta brasileiro da cidadezinha de Itabira. Se pedissem minha opinião, pra ‘incrementar’ a rua ia botar um pipoqueiro na esquina, pão de queijo no bar mais próximo, doce de leite para adoçar a vida e poesias do Drummond como grafiti nos muros. Depois, ia ensinar aos transeuntes como se fala com um gostosíssimo sotaque mineiro: “In the middle of the Road, a pedra”, uai. 
E o meu coração continua.


* Amyr não fala propriamente em solidão no livro e sim em ‘ser atacado de uma voraz saudade’ :)

Dedicado a Antonio. 

A minha rua do Poeta ;)


Um comentário:

  1. Tomando um amargo café aqui no Rio Vermelho, ainda com um frio incomum na cidade e lendo esse presente logo cedo... Saudade de você e inveja desse seu olhar pras coisas minha baiana Charmosa, classuda e bela. Delicado o seu texto, lindas as fotos e sempre doce a minha lembrança em ti. Quero tocar em você, isso sim!!! Minas Gerais são teus olhos e eu sei muito bem disso.

    ResponderExcluir