sábado, 18 de junho de 2011

A Cidade dos Gatos Perdidos

Montrealzinha, toda prosa, apresenta uma outra cidade a cada momento. A que eu vejo agora, é a cidade dos gatos perdidos . Na região em que moro, boa parte dos postes – porque fora do centro os postos são de madeira? – estão ‘decorados’ de cartazes bilíngues: Chat perdu/ lost cat. Seguem descrições minuciosas dos bichanos. Pinta escura na pata direita, rabo torto e orelha rasgada, cor de burro quando foge. E ainda, vejam vocês, traços de personalidade como carinhoso e arredio, por exemplo. As fotos são de arrasar: os gatos deitados na cama fazendo cara de majestade, ou em pose de quem está prestes a fugir de um paparazzi. Seguem a data do último dia em que foi visto, idade e o suplício de um (a) dono (a) que sofre a ausência da sua bolinha de pêlo que faz “rom-rom”.
Caminhando nos arredores da noite – quando todos os gatos são pardos – vejo de quando em quando grupos de felinos parados na calçada, conversando entre eles. Raramente correm ou se movimentam bruscamente, mesmo com a minha aproximação mais evidente. Apenas interrompem a conversa pra depois continuar quando a gente está longe. Outro dia, ouvi algo como “Viu que o Jimmy fugiu pro Havaí?”.
Nas ruelas, os quintais avisam que a cidade é assim um pequeno país de gatinhos. Estirados tomando banho de sol, deitados nas cercas de madeira como cães de guardas preguiçosos. Estavam todos ‘hibernando’ no inverno, como se suas janelas fossem faróis de sentinela, ou tronos de primeiros-ministros. Fartos de tanto cafuné e de leite quente.

O cartaz que mais me chamou a atenção foi o do John Spencer. Segundo consta, ele responde ao ser chamado com voz aguda e tem até perfil no facebook, pode? :)

Gatinho escondido no quintal: quem viu quem, primeiro? ;)

Na escada...com esse calor, eu também quero!

 Não um 'mancebo' perdido, é o meu querido gatinho Bruno Nescau que agora curte todas na Ilha de Itaparica :)

sábado, 11 de junho de 2011

Vida

Este blog não é jornalístico, mas tenho que mencionar o acontecido no último dia 7. No centro da cidade, perto da Universidade do Québec em Montreal (UQÀM) duas pessoas morreram e uma delas recebeu uma bala perdida. Isso mesmo, a ‘especialidade’ dos chamados países em desenvolvimento. Sabemos bem que infortúnios acontecem em todos os lugares do mundo. Infortúnios desse tipo, ainda bem, causam algum choque embora não seja lá uma grande novidade.
Segundo fontes, um sujeito com uma faca revirava uma lata de lixo e em algum momento, ameaçou alguém com a tal arma branca. O ‘ameaçado’ informou à polícia o ocorrido, a polícia por sua vez foi à caça do ‘meliante’ (ufa...definitivamente não tenho talento para estórias policiais) desferindo assim alguns tiros durante a ação. As balas acertaram o alvo e também um transeunte, um cidadão comum que passava na hora errada no lugar errado. Os dois atingidos morreram. Os policiais envolvidos foram levados em estado de choque para o hospital. 
Sem comentários.
No dia seguinte houve manifestação popular sobre a truculência e o despreparo policial. Ontem mesmo, uma reconstrução do crime – e mais manifestação. A imprensa, claro, fez do fato um acontecimento a ser repetido à exaustão.
Poucos momentos depois do ocorrido, eu estava no local sem saber de coisa alguma, apenas porque coincidentemente, tinha lá um compromisso. Vi uma movimentação estranha, mas jamais imaginaria que há poucos minutos atrás duas almas haviam se desprendido de seus corpos. Incrível como em um segundo você está, e em outro não mais está neste mundo. Em qualquer instante TUDO pode mudar. Para o bem e para o mal. Esse é o jogo da vida, eu sei. Confrontar-se com ele numa tarde ensolarada é – no mínimo – desconcertante.
Para quem quer saber mais.

Colagem desta blogueira que vos fala ;)

quarta-feira, 8 de junho de 2011

O Outro

Pra quem quer me ver - além de ler também - tenho um blog de colagens: http://www.diariodecola.blogspot.com/. Desde agora, agradecendo a visita :)

sábado, 4 de junho de 2011

Balançoires

Na Praça das Artes, Bairro dos Espetáculos , alguns artistas se juntaram para promover a cooperação. Instalaram 21 ‘Balançoires’ que, ao serem balançados, acionavam singelas notas musicais.  Na medida do embalo as notas iam acelerando e formavam uma espécie de canção como resultado da nossa cooperação. Bonitinho. Divertido e fofo. Antes de sentar, recomenda-se ler as instruções: Não balançar muito alto, nem muito veloz, nem muito forte. Ou seja, não se divertir, né gente? :P
Diante disso, acabei criando as minhas próprias regras: alto, forte, rápido e ao som de uma boa música eletrônica. E tenho dito.

Delana, quase voando do balanço, por Leo Santana

Delana no modo impressionista, por Leo Santana :)

foto de Christina Gunn



A tal da Bienal ou a tentação do acaso

A bienal de Montreal começou em 01 de maio e terminou no 31 do mesmo mês. Antes do apagar das luzes, fui dar uma olhadinha e achei tudo muito criativo e interessante. Mas, nada, nadica que se compare à enorme Bienal de São Paulo. A cidade não celebrou tanto a festa da arte contemporânea como eu pensei que o faria, ou sou eu acostumada àquela mancheia de publicidade que sempre tem esse evento no Brasil?

O tema da Bienal foi o clássico poema do escritor Stéphane Mallarmé: “Jamais um lance de dados abolirá o acaso” no Brasil ‘transcriado’ por Haroldo de Campos autor do genial livro-poema Galáxias.  A notícia de que Mallarmé seria o mote para a Bienal me fez ter saudade de quando ouvi pela primeira vez o poema e escrevi num dos meus cadernos de recortes e desenhos que deixei no Brasil. Também de quando li os seus Contos Indianos e descobri na introdução que Mallarmé queria chegar à abstração de inventar uma palavra que não teria significação em língua nenhuma Fiquei tão impressionada que poderia entrar uma mosca na minha boca! Coisa de louco, rapaz... A palavra como imagem, as suas experimentações com o livro como objeto... aquilo...ainda no final do século dezenove me fascina  desde sempre. Mas não vou chatear vocês com divagações pseudofilosóficas, sobre essa abstração toda. A abstração afinal,e stava lá na Bienal. Paradoxalmente, para todo mundo ver e pegar.Nham,Nham!

O que mais me chamou a atenção:
Um Totem,adivinhem de que?De colagens...cheinho delas (estava quase tirando uma foto quando a mocinha simpática avisou que era proibido...droga!) no topo dele a bela frase: ‘Do stupid things, forget perfection’ nem precisa avisar, né?
Tinha também uma sala com paredes brancas e confetes feitos de páginas de livros de grandes escritores...a velha desconstrução da arte, resignificação das coisas...ok,ok a arte não precisa ser necessariamente criativa, só ser, comunicar, seduzir e deixar ver o que vai acontecer.
Me chamou a atenção o vídeo ‘Imobilidade’, que falava sobre a impressão de que se tem das coisas à primeira vista, ao primeiro olhar. E cheguei à conclusão de que essa tal impressão é tão abstrata, tão baseada em coisa alguma, que é feita do mesmo material de um sonho. Bingo!
Gostei também da projeção de palavras num quarto escuro com uma ventania de fazer voar pensamento e um anemômetro. Dava uma sensação de...tempestade de palavras. Algumas voavam pelas paredes, se deslocando como pássaros, outras ficavam ancoradas como barcos e de repente voavam como foguetes. Que nem palavra que fica na garganta com vontade de ser dita, mas com vergonha de se mostrar.
Queria dizer mais algumas coisinhas, mas ... lá vem o metrô me chamando...Marcamos um encontro então para o próximo post?

 


‘Sans les autres Il n’y aurrait pas de hasard’, segundo um artista participante. Hmmm...será?
 (Sem os outros não haveria o acaso)