quarta-feira, 30 de novembro de 2011

"Tá vazio lá"

Foi num restaurante italiano na região de concentração italiana, a chamada Petite Italie* que encontrei Mohcine, meu caro amigo marroquino. Com Moh – já ouviram falar que intimidade é um caminho sem volta? – a conversa fiada girou em torno do Brasil, porque... claro eu provoquei, né? Ele vai fazer a sua primeira visita à terra do ziriguidum agorinha que vem, e antes de tocar os pés onde canta o sabiá, eu quis saber o que é que ele pensa do lado de lá.
A primeira vez que ouviu falar do Brasil foi em noventa e quatro, na copa do mundo dos EUA mas o cabra torcia pra Itália porque era fã do Baggio. Dizem as más línguas que passou a ‘fé-ruim’ pro Mick Jagger e foi assim que o cara fez estória da Copa da Alemanha em 2010...;) E...tadinho como se não bastasse essa bola fora, torceu para o Marrocos em noventa e oito na copa da França. Aproveitando que ele não lê português, olha essa pintura do Rivaldo no primeiro gol da partida de final 3x0 pra nossa canarinho ;P. Depois dos eventos traumáticos :P, uma vez na Austrália em visita ao irmão, Moh ganhou de presente a amarelinha da seleção... daí virou a casaca e é Brasil desde criancinha :).
Curiosa, quero saber mais onde anda a Hy Brazil no seu imaginário. A primeira palavra que lhe vem à mente é exótico. Pra quem vem de Casablanca,o que é ser exótico...deve ser coisa boa né?! O Brasil é a simpatia em pessoa, quer dizer, em país segundo o grande Moh. Tanto que ele tem vontade de aprender a língua, numa estratégia de sorver mais a cultura e de finalmente...tchã-nã-nã...virar brasileiro. “Pra se tocar mais o País, chegar além da superfície, é preciso falar como brasileiro, porque tem coisa que não se traduz”. Falou bonito o rapaz. Falou sobre cinema também, de ter visto Cidade de Deus do nosso Meirelles e ter ficado bem impressionado.Na conversa fiada não faltou o tema desigualdade social que nos faz bem Brasil (ainda). Mesmo sem nunca ter ido ao Brasil, Moh já sabe que a nossa dança é assim: louca e linda, insegura e admirável, graciosa mesmo. Num forró que às vezes perde o ritmo, ou num sambinha que às vezes dá nó no pé.
A primeira frase que o nosso marroquino aprendeu em português? "Tá vazio lá". Me tirou uma gargalhada quando me disse isso, mas depois dessa conversa fiada achei que faz sentido. Embora pleno de alegria existe algo de vazio e melancólico no Brasil, como um balão vazio de final de festa. O lado bom é que no outro dia, começa tudo de novo, mesmo – e talvez sobretudo – se nada mais fizer sentido. Tristes Trópicos**?

* Pequena Itália
**Do original francês 'Tristes Tropiques' do Claude Lévi-Strauss, publicado em 1955 sobre as sociedades indígenas brasileiras.


Moh: Africano do Norte, já é quase Brazuca, né gentem?