Carranca Viajandona
Nova Iorque é grande e infinita. Impessoal e amorosa. A
cidade de aceita tudo que é bicho do mundo, de carranca a bicho grilo, é um mix
de humanidade sem preconceitos.
Andando
na Times Square bati de frente com o museu 'Madame Tussaud'. A minha cabeça de
carranca se pergunta porque tem gente que quer tirar fotos com uma estátua de
cera? Humanos...
Ainda no Times Square vendedores de cachorro-quente fazem
lembrar a última tentativa de ataque terrorista na Grande Maçã. Diz a
quase-lenda urbana, que um deles viu uma
mala suspeita no meio da Avenida e ligou para a polícia. Batata! Era realmente
uma bomba. Obaminha até ligou pra agradecer! Em meio a sorrisos e um sol que
brilha, a ameaça terrorista é real e constante. Fervilha, Nova Iorque!
Como a rainha de copas do livro Alice de Lewis Carroll. Ela dá
ordens de cortarem nossas cabeças. Tentamos nos refazer com desespero para
entender a cidade, e o emendo sai caótico e apaixonado por ela. Dá medo! Medo
de Amor.
Se numa esquina um turbilhão de energias se aproxima
inevitável, na outra é calmaria de se espraiar como numa música de ouvir e não
de dançar.
Os museus do mundo estão lá. O Metropolitam, o Moma , o
Britney, História Natural, Guggenheim e as galerias mais caretinhas. Todos disputam
público e se reconciliam com ele. Há quem torça o nariz para certos tipos de arte!E
Isso é arte? Espantou-se alguém ao meu lado. E isso é arte, hein? O bom é que
Nova Iorque em arte dentro e fora das quatro linhas.
Veja essa ilha louca no ‘olhar-correspondido’ do Grande Eça
de Queiroz (diplomata rico em detalhes, viajador de humor e 'desumor') em 1873:
“... É uma cidade que em parte amo e em parte detesto. Amo-a
porque ...porque sim – e detesto-a, porque deve ser detestada. O que é, você
não imagina: a violenta confusão desta cidade, o extraordinário deboche, o
horror dos crimes, a desordem moral, a confusão das religiões, o luxo
desordenado, a agiotagem febril, a demência dos negócios, os refinamentos do
conforto material, os roubos, as ruínas, as paixões, os egoísmos, tudo isso está
aqui chauffé au rouge. Isto não pode
durar,todo mundo o diz.
É uma cidade que tem cem anos e que está podre. Viveu muito e
muito depressa. – e chegou sem educação.
Porque a verdade é esta: New-York (como chama Eça a Maçãzona) não tem
civilização. Há mais civilização num beco de Paris do que em toda vasta New
York (...)
Se você sai do seu Hotel e encara alguma das grandes ruas de
New-York, fica aterrado: aquela agitação, estrondo, ruído, febre, rostos consumidos
e secos, carruagens nos passeios, cavalos de ferro a máquina por cima das ruas,
junto aos tetos das casas, os aparatos imensos da polícia, a excentricidade dos
anúncios, o rumor apressado de todo o mundo ... Compreende logo que está entre um povo bárbaro
que aprendeu a civilização de cor. Mas bárbaro como é – que força, que
originalidade inventiva, que firmeza! –É estranho!
Estúpida New-York (e aqui ele menciona que na época, Nova
Iorque era chamada de “A cidade” e não ainda de a grande maçã) que se chama a
si mesma de A Cidade como Roma – que
fez ela jamais para se chamar A Cidade
? Paris fez a Revolução, Londres deu Shakespeare, Vienna deu Mozart, Berlim deu
Kant, Lisboa... deu-nos a nós – que diabo! Mas esta estúpida New –York, o que
tem dado? (...) E no entanto, meu amigo, é necessário amá-la! (...) É uma tão
vasta nota de ruído que a humanidade faz sobre o globo – que fica pra sempre no
ouvido!
Querida
New-York –Não, odiada New-York!”
Foi nessa cidade que morreu um Beatle, enquanto ex-beatle.
Neste sentido, acho que já posso responder ao Eça sobre o que deu 9orque: Ela
deu Campos de Morangos e a sociedade de consumo, o animal o marketeiro que
vende o que já não tem remédio e movimenta a bolsa: A tragédia. Tinha uma banca
de venda de camisetas com fotos de John Lennon a poucos metros do lugar onde
foi assassinado. No que também era seu canto preferido do parque. Muita gente
comprando...
Engraçado relembrar que foram brasileiros os primeiros judeus a chegarem em Nova Iorque.Alguns arriscam a dizer que eles fundaram a cidade.
Expulsos do Recife – onde fora erguida a primeira Sinagoga das Américas –
fizeram uma tentativa anterior na Jamaica, que não deu certo. Embarcados no Gulden
Valk chegaram à cidade do King Kong. E lá se instalaram como tantos outros
formando essa cidade desavergonhada. Sedutora como um bombom Heavy Metal. Sem
pena de roubar o coração de que a vê pela primeira vez.
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