sábado, 8 de dezembro de 2012

Esquilos e micos (ou primos distantes)

Outro dia, um amigo quebequense comentou que achava bizarro pra não dizer assustador o fato de no Brasil haver macacos nas árvores nas ruas das cidades. Eu retruquei que achava estranho ratos de cauda grande nas árvores e ruas, saqueando lixos, comendo toda e qualquer porcaria, assaltando sacos de pipoca e vá lá...fazendo gracinhas também. Ele retrucou dizendo “Mas os micos são mini-humanos quase! Têm trejeitos de gente!” (não esqueçamos que os macacos são nossos primos mais próximos :))

(pausa dramática)
Lembrei da estrada que peguei de Montreal pra Toronto. Um monte de marmotas 'terminadas' pelo caminho (tentei evitar a cacofonia marmotas mortas que Deus castiga ;P). Bicho comum por aqui, mas estranhão pra quem vem do sul (ao menos pra mim). Nada contra as bichinhas, mas são antas que não deram certo, tadinhas. Ele me olhou com o olho do tamanho de uma lua cheia “Não, elas não são estranhas!” Ai,ai,ai...e o olho virou um planeta de fogo quando eu disse que elas são exóticas. Juro pela minha coleção de cadeiras em miniatura (que aliás, ainda não comecei) a palavra EXÓTICA pareceu ofensiva.
Fiquei pensando que a fórmula simples de perceber os diversos pontos de vista é dificilmente aplicada na vida da gente; e se o é, dificilmente repetida. Quando por aqui, um 'local' me pergunta o que acho do Québec e digo que há algo de exótico... na neve...e listo coisas que me parecem diferentes e incomuns – até o primeiro encontro com elas – às vezes, a coisa não é bem recebida, ou pior, assimilada.  Exótico é o que não sou eu e ponto final. Pra não ser eu, é preciso um distanciamento máximo do objeto em questão. Já o lugar do exótico é estável...imutável como, como ... NADA na vida (ou quase nada).
Pra mim isso é só o começo da discussão. Uma cosquinha (mais uma). O negócio ainda é observar, observar e observar. Depois a gente vai falando o que vai vendo, compartilhando, acertando e errando também. E ... quanto espanto, quanto desencontro e desentendimento!  Ai,ai,ai... quando não bate a preguiça, se colocar no lugar do outro, refletir e refletir-se é um bom negócio.
Os esquilos, pobrezinhos, não têm nada com isso, ou quase nada. Confesso que já mostrei a língua e disse alguns bons palavrões pra um esquilo que rasgou o saco do lixo que eu coloquei do lado de fora. Imagina toda aquela porcaria espraiada pelos fundos? (no bom sentido, claro ;)) E os micos? Desastrada e um pouco distraída, já paguei muitos principalmente nessas bandas acima do equador.

Mico se mimetizando em uma árvore soteropolitana!
FLAGRA!
Esquilo se safando de uma rasgação de saco em Montreal :).

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Sorriso de Outono


O sorriso de outono vem intercalado por duas imagens de um maaaaar de folhas amarelas que caem (caíram) nessas últimas semanas.
Caminhando e fazendo as folhas se quebrarem (crek-crak!) , vou sentindo que as ruas cada vez mais vazias  e misteriosas são mais minhas agora. E as copas das árvores que às vezes parecem nuvens amarelodouradas?!

                                              Sorriso com barulho outonal ;).

domingo, 4 de novembro de 2012

Chuva

Já tem fumacinha saindo da boca quando se tagarela na rua. Já tem que se usar luvas pra quem anda de bicicleta por aí, mas ainda não tem neve. Tem chuva.
O Québec é a terra do gelo e talvez por isso as chuvas no outono  por aqui não me agradam tanto. Meu gostar é bipolar: ou o sol ou a neve. Quando tem chuva, eu me sinto quase que como ultrajada por um fenômeno natural que não é novo #malhumoradaeu? e no entanto não se apresenta como eu costumava experienciar desde o meu ‘sempre’.
 Elas não são refrescantes como uma chuva tropical. São frias – às vezes geladas – como um chuveiro que não se pode alterar para o modo quente. Não é mística, não passeia pelo desvio de um pensamento furtivo, bom. Nem dá vontade de botar a língua pra fora pra tomar um tiquinho ;P. É uma chuva burocrática. Cai. Molha. Congela a derme, provoca gripe #hipocondríacaeu? E, geralmente vem ‘temperada’ por um céu cinzento e um vento agudo.
Pro meu relato não transbordar em indocilidade malcriada, quero dizer que por um ato de Deus, meus sentimentos estão se modificando graças ao caro Martin Page. É que esperando a chuva passar, me abriguei em um sebo. Lá reencontrei um dos meus franceses preferidos. O destino me botou cara a cara com o primeiro livro que li de sua autoria – ainda em português e no Brasil-sil-sil – o ‘Como me tornei estúpido’ só que dessa vez na versão original. Melhor que isso foi ver o seu ‘De la pluie’* que nunca tinha ouvido falar. É um tratado sobre a chuva com poesia branda de botar sorriso no rosto.
Comprei. Gostei muito e recomendo no mesmo tanto. 

Fugindo da chuva-má num viaduto!
                                
O livro que amoleceu meu coração de pedra e sem alma ;)
                                        
*Em tradução livre e burocrática : Da chuva

domingo, 28 de outubro de 2012

Banhos Públicos ou MELANCHOLY BABY


Em 1876 Montreal era uma cidade industrial cheia de operários amontoados por todos os lados. A coisa era tão braba que relatos históricos falam de condições de higiene miseráveis que a colocava em terceiro lugar no mundo entre as mais xexelentas da época; a primeira era a Calcutá e a segunda Alexandria.
Um monte de gente se acotovelando em condições megabizarras – banheira e água quente (elementos básicos na cidade invernal até hoje) eram artigos de luxo, imagina? – resultou em índices de mortalidade infantil assombrosos e uma onda de tifo.
Dizem que a coisa ficou pior também com o crack da bolsa de Nova Iorque 1929. Mas antes disso, em 1883 a construção de banhos públicos já era incentivada pela elite local. Eles não  queriam que as epidemias se espalhassem. A solução foi acabar com carnaval de micróbios promovendo o asseio público e a prática de esportes nesses piscinões nórdicos.

Hoje em dia são poucos ou pouquíssimos na cidade. Com o fim das vacas magras os banhos tomaram um cunho sexual e foram aos poucos sendo proibidos.
Montrealzinha guarda alguns como símbolo do seu patrimônio histórico (olha o flirck aí, gente!). Como o Bain Mathieu. O espaço é usado pra eventos como feirinhas de moda, bailes, festas... Foi assim que eu fui parar lá. Era uma feirinha alternativa de moda vintage, a OldWIG com stands, bebida, música, gente mergulhada no visu anos 1950, uma graça.

Uma amiga tem uma marca que tá dando super certo, o MELANCHOLY BABY e eu fui dar aquela força.
A sensação é louca porque a piscina tá lá imeeensa com as raias demarcadas, os azulejos azuis sorridentes e, claro, VAZIA. A feira foi montada dentro da piscina vazia. Parecia uma festa na lua!Mas todo mundo era muito moderno e aquilo tudo parecia muito natural. O que destoava do contexto, aliás, destoavam eram meus olhos esbugalhados achando tudo maravilhoso e original. Mergulhei nos brechós e nas músicas psicodélicas que enfeitavam o ambiente. Nos cabelos, cores, gestos, sensações. E depois voltei pra casa enfeitada de um luar estranho, que ainda não consegui decifrar;).

A planta do Bain Mathieu: o retângulo grandão é a piscina vazia

A disposição dos stands descolados!

Seu Alfred, fundador do Bain em 1931. A família aluga o espaço para eventos cool ;)

Fonte: aqui :P

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Nossa Senhora da Bixi

Ano passado comprei uma bicicleta, mas acabaram furtando meu pneu dianteiro. Uns amigos apontaram meu erro: deveria ter posto dois cadeados na magrela; um que trancasse o próprio pneu no corpo da bicicleta e outro que a ligasse ao local onde ela estivesse estacionada.

Ao invés disso, optei por provar a bixi. Já falei dela em alguns posts aqui no gelinho. É um tipo de bicicleta pública. Alugada por até 45 minutos em cada utilização. Está disponível em algumas estações ao longo da cidade. Você pode ser ‘assinante’ e pagar por um mês, um ano ou mesmo um dia. Os preços variam até $ 70,00 por um ano – que dura da primavera até o outono – foi o que eu fiz.
A coisa é mais ou menos bem relax. Já que teoricamente você não se preocupa em onde estacionar a bichinha, ninguém vai furtar...rs no entanto, vai ter que se preocupar em saber se a estação mais próxima do seu destino vai ter um ponto pra vc encaixá-la.
As estações são pontos de retirada e retorno de bixi. Só que...pode acontecer de vc chegar lá e não ter bikes disponíveis ou ir devolvê-la e não ter espaços vazios também. :(
Em cada estação tem um totem. Nele há uma tela onde se pode investigar as estações de seu destino (um cardápio de 8 em geral nas redondezas) assim vc verifica se vai dar tudo certo ;). Ou então, pedir mais 15 minutos de tolerância sem ser penalizado. A penalização? Salvo engano, cerca de $1,00 por cada minuto a mais utilizado. Salgadinho,né?
Ah, mas tem um aplicativo i-phone onde vc pode investigar a situação dos pontos bixi. Pra quem tem, é uma mão a roda. Acontece que...nem sempre esse aparato eletrônico funciona. Eu falo por mim, que sou órfã de i-phone e confiei nas informações do totem.
Na telinha-bixi, a informação era que a estação pertinho de casa tinha um lugar disponível pra qu’eu depositasse a magrela. Chegando lá, tinha...mas por algum quibrocó eletrônico a bicicleta não era computada no sistema deles. Acreditam nisso? #sócomigo. Daí eu liguei pro serviço de atendimento ao cliente. E nesse momento tenso, esperei uns 40 minutos pra falar com uma viv’alma. Ok, ok expliquei o problema, era olhou o sistema e avisou que tava rolando um problema, uma coisa qualquer e me deu a solução: “Leva pra casa!” Eu Cho-que-i! Como assim leva pra casa? “Sim, a senhora leva a bicicleta pra sua casa, no outro dia deposita em uma estação e liga pra gente informando. Não se preocupe que não será penalizada financeiramente.”
Eu não! Tá doida? (a segunda parte eu não falei, mas saí rodando pelo bairro tentando encontrar ponto bixi por aqui.) Alguns 20 minutos depois encontrei um técnico da bixi com um caminhãozinho cheio delas. Explique o caso, com os olhos arregalados ele falou que eu poderia deixar lá com ele, que se dirigia pra fazer uma manutenção em uma estação próxima. Acabei deixando a bixi na dita estação. Em seguida liguei pra mocinha dizendo que não ia dormir com a bichina não, que tava tudo resolvido. Ai, que meda. Bom que no final, deu tudo certo. UFA! ;P.
Moral da estória? Qdo vc pegar uma bike, assim que desencaixá-la da estação, faz uma oraçãozinha pra Nossa Senhora da Bixi. Que ela guie seus caminhos e permita que você encontre um lugarzinho pra depositá-la perto do seu destino e nunca nos desampare!#aomodoancelmogois.

O painel com as instruções de como usar a 'bixinha'  
Seria bom se a informações fossem 100% confiáveis :P