Nasci numa cidade praieira. O mar era meu quintal. Minha linha do horizonte. Paisagem natural que emoldurava os dias, as noites, as férias escolares, a ida ao trabalho, ao cinema e mais tarde os mergulhos com snorkel nas águas claras da baía.
Já me perguntei se seria capaz de
viver em uma cidade sem mar. Certa vez tive a intenção de morar em Belo
Horizonte (Minas Gerais). Os planos não se acertaram e voltei pra Salvador com
outra carta na manga: Montreal (#bhaindaehsonho!). O lado bom é que caminhando
pelas ruas de BH ao ver que a moldura marítima se transformava em moldura de montanhas
por todos os lados, meu coração não reclamou como pensava que seria. A ideia foi
totalmente arrematada vendo que estando em Montreal por pouco mais de dois
anos, percebo que sim, é possível viver longe da praia (espero que o Rio São
Lourenço não esteja lendo este post,rs).
O meu negócio com o mar eu não
sei direito explicar. Não costumava ir pra me tostar na areia. Além do que, ia
só em horários de criança (até as 10h e depois das 16h). Acho mesmo que ele
traz um não-sei-o-que pra cidade a fazendo mais viva.
Ao mesmo tempo, venho pensando
que esse ‘não sei o quezinho’, essa ‘vida’ é algo que pode ser ‘substituído’
por um fenômeno da natureza. Sendo assim, acabo de decretar que “neve também é
mar”. :)
Sinto que o fenômeno da mudança
de cenário que vem com a mudança das estações do ano – e, confesso, a neve mais
ainda – traz essa transformação e renovação que o mar trazia em mim. Espelhando
o céu, renovando-se com as chuvas, elevando-se com as marés. Começando e
recomeçando-se sem fim. Igual a inverno-primavera-verão-outono. Igual a
neve-frio-chuva-sol; vento-frio-flores-folhassecasnochão #tudojuntomisturado!
Enquanto os hábitos se acostumam
com aos protocolos da mãe terra adaptando-se com casacos, luvas, cachecóis,
guardas-chuvas ... os olhos – “janelas da alma” como já disse o poeta –
brilham ainda diante do mar branco que
se fez de madrugada. Foi a neve que começou a ‘se compor’ no comecinho da
noite. Imensa (seu azul é branco com cristais). Sem o barulho das ondas, sem o
salgado da água, sem o quente dos mares austrais. E ainda assim com vontade de
ser mergulhada.De ser caminhada a passos largos de algum pinguim novo #euzinha!
De ser atravessada – ou remada? ;) – para comprar chocolate quente no café da
esquina, para visitar amigo, para ficar na fila de show de rock, ou para
simplesmente bisbilhotar pela janela o lado de dentro do lar alheio.
Guardando a promessa de que ela
desaparecerá com o calor do tempo para depois voltar em alguns dias.
É que neve, também é mar!
Para a úlitma tempesade de neve da temporada.