quarta-feira, 27 de julho de 2011

Brasil na cabeça

Biscoitando o Journal Metro – graciosamente distribuído nas estações subterrâneas – saboreio em pequeninas gotas, qualquer menção do ‘Brasil-sil-sil’ e claro, dos brasileiros. É bom ver o nome de algum artista brazuca numa página qualquer. Interessante é ver que em certos casos sua criatividade é entendida como resultado do fato de ser brasileiro.
Claro que outros aspectos são mencionados: o aumento de turistas brasileiros em Montreal, um cantor da chamada MPB que vem nos render visita – o grande Milton Nascimento – a Dilminha que virou verbete do dicionário Le Petit Larousse e, bem... a mulher mais velha do mundo – era brasileira a danada :P – que   morreu aos 114 anos e 347 dias. 
No Museu de Arte Contemporânea de Montreal, com surpresa e alegria vi um Vik Muniz. Foi adquirido como parte do acervo do museu. Bom, né? Não está na ala dos transitórios. Reforça a potência e a consistência da arte de um artista com nosso DNA. Nem tampouco figura na ala de sulamericanos ou latinos, é um poeta visual com fronteira a perder de vista. Quer mais? O nosso Alexandre Herchovitch  referido simplesmente como estilista e nenhuma linha sobre a sua brasileiríssima origem. Há quem ache isso ruim, eu não acho. É bom saber que estamos infiltrados por aí, para além de clichês e fronteiras.
E olha que esse post é só um tiquinho do meu obsessivo interesse sobre a imagem do Brasil no exterior ;)
 
* Sobre Vik Muniz, recomendo dar uma olhadela no Lixo Extraordinário.

A morte da mulher mais velha do mundo: brisileirérrrima :) - em 21 de junho de 2011
Dilminha citada no jornal de 22 de junho de 2011

Criatividade 'à Brasileira'





segunda-feira, 18 de julho de 2011

Janelas

Nessas minhas andanças de bicicleta, levo comigo a minha rolleiflex pós-moderna –isso  mesmo, minha pequena câmera está pra lá de obsoleta :P – sigo  meu ritmo... fotografo ali, aqui e o domingo vai sem medo.
As casas com sua cores pouco ortodoxas – parece que foram coloridas pelo nosso Volpi – e  suas escadas se contorcendo de cócegas, já não são absolutamente ‘o novo’, mas ainda absolutamente encantadoras.
 Ultimamente tenho me apaixonado por janelas. Elas que são os olhos pra fora dos que estão de dentro e os olhos pra dentro do que estão de fora. No verão, abertas, fazem correr o vento, fazem correr a vida. No inverno a preserva bem no quentinho. Parece uma moldura do motivo branco do quadro que se mostra lá fora.
Engraçado como algumas casas, parecem enfeite de bolo ou versinho que não deu rima. Enfeite de bolo são aquelas coloridas e enfeitadas, de cores fortes e vibrantes como que feitas de açúcar e...dá vontade de morder! Versinho que não deu rima são aquelas meio esquisitinhas, de combinação um tanto meio ‘hmmm’... tinha uma palavra bonita, um mote interessante, mas não deu liga, e ficou com cara de que poderia ser melhor. Não, ‘ce n’est pas grave’. Todo mundo tem uma coisinha meio esquisita, meio assim-assim  né não? ;).



"Barriga pra dentro/ Janela pra fora"...viram, o versinho pode também ter rima , mas ser completamente sem graça como este :)


segunda-feira, 4 de julho de 2011

Bicicletas

Primavera ou Verão em Montreal, aberta a estação de bicicletas em bando. No inverno elas são raras como pássaros perdidos no asfalto. Como a parte da família que resolveu não migrar para o sul. É coisa de quem pode suportar as temperaturas mais frias e dar de ombros pra isso. Daí, quando o sol resolve dar as caras, é hora de colocar as bichinhas pra fora, assim como os patins (mas isso já é outra estória) renovar os acessórios, dar nova pintura ou quem sabe comprar uma outra magrela.
Acessórios não faltam. Desde os necessários capacetes e faróis, a prendedores de barras de calças – espécies de elásticos para que as calças de boca larga não se prendam na corrente e provoquem um confuso acidente – e meias-calça do tamanho certo pra quem quer usar bicicleta de saia/usar saia e andar de bicicleta. ;)
Para se ter uma ideia,54% dos quebequenses andam de bicicleta. Algumas ruas têm espécie de ciclovias claras com marcação no asfalto, mas mesmo sem elas pode-se tranquilamente se deslocar por aí sem medo. Os motoristas sabem que as ruas são também das bicicletas. Claro, disputas sempre existem. Só não chegam ao grau de inimizade que os motociclistas e os motoristas guardam no Brasil, por exemplo.
Tem também a famosa bixi. Em São Paulo eles testaram um sistema similar. A bicicleta pode ser ‘emprestada’ em uma estação de metrô e devolvida em outra, no intervalo de 30 minutos dando como calção o número de cartão de crédito e uma certa quantia em aberto.Tal quantia seria descontada do cartão, caso a bendita não fosse 'restituída' no tempo ‘combinado’. Em Montreal o sistema é quase isso. Tem-se a opção de alugar a bicicleta por um dia e trocar/devolver a cada 45 minutos na estação mais próxima (custa cerca de 5 dólares). Melhor: as estações de bixi não estão necessariamente ligadas a estações de metrô. Estão em número infinitamente superior, bem espalhadas pela cidade. Pode-se ainda comprar um cartão bixi se preferir. Custa 78 dólares canadenses e por todo o ano – atenção, todo o ano quer dizer somente nas estações do ano em que as bixi funcionam (primavera, verão e comecinho de outono) – tem-se à disposição as bixi com a promessa de trocar a cada 45 minutos em cada ponto.
Ficou confuso? A confusãozinha ainda está por vir. O ano passado, as bixi não tinham publicidade e por falta desse ‘apoio’ estavam em menor número,custavam mais à prefeitura mostravam-se  assim menos acessíveis ao público. Este ano, elas têm publicidade nas rodas, o que possibilitou que estejam bem mais espraiadas por aí.
Mesmo assim, a polêmica surge: o cronisita do jornal Voir  Steve Proulx, por exemplo, reclama da publicidade nas bixi, diz que polui a cidade visualmente e usa do espaço público para fins particulares...blá blá blá, blá blá blá. E tem coro, viu? Algumas bicicletas amanhecem com pichações que tentam  'apagar' a marca que dá vida à pobre bixi, ou nelas são simplesmente coladas inscrições tipo ‘Não à publicidade’, por exemplo.
Polêmicas à parte, eu tenho usado a minha própria magrela. E experimentado a minha própria pedalada na chuva à noite, ainda sem a necessidade de patrocínios ;)

PS* mesmo assim o M. Proulx, é de longe , meu cronista favorito por aqui :)

Estação de bixi

Bixi com seus ilustres patrocinadores
'Não à mercantilização do espaço público'

Aberta a temporada de bicicletas!