segunda-feira, 29 de agosto de 2011

A morte e a morte na imprensa canadense

16 de agosto, 1 h da madruga:  o site do jornal Le Devoir  anunciou num artigo  a morte de Jean Charest . O Primeiro Ministro do Québec – grande representante do partido dos ‘sem-partido’ – teria morrido depois de uma crise cardíaca no Centro Hospitalar da Universidade de Montreal (CHUM). Enquanto a notícia se espalhava, logo de manhã o próprio Monsieur Charest en chair et en os*, como ele bem gostou de sublinhar, aparece em público pra dizer que ainda está lá. Vivinho da Silva, para espanto de quem quer que seja. É que o site do respeitado jornal, tinha sido atacado por um hacker.

22 de agosto, 11 h: o site do jornal Le Devoir  anunciou a morte do Líder da oposição – o social democrata, representante maior do NPD (Nouveau Parti Démocratique du Canada) Jack Layton. Causa mortis: câncer.
Monsieur Layton pediu licença do Partido avisando que voltaria na rentrée – tempo em que o verãozinho começa a ter fim, todo mundo volta pra casa e toma tino na vida: estudantes, trabalhadores, etc. Avisou que ia tratar um segundo tumor – o primeiro, de próstata, fora curado – sem especificar o tipo da nova doença. E que em setembro, estaria pronto pra pegar no batente.
A notícia no Le Devoir caiu meio incrédula pra mim, apesar de tudo quase levar a crer que era um quase verdade, podia ser dessas verdades virtuais muito em voga...
Para meu pesar e espanto, era ‘verdade real’.
Não foi de se espantar a comoção no Québec, pompa e circunstância no velório em Toronto... A carta que Layton lucidamente escreveu no dia 20 de agosto foi divulgada por todos os cantos.
Político tende a ser engrandecido quando da sua morte, alguns mesmo tomam um ar magnífico e brilhante, mas eu diria que o Layton era um profissional da esperança – visão bem superficial, de que acaba de chegar no pedaço – e pra meu espanto, tão popular que flagrei uma manifestação pró-bigode no para –brisa de um carro. “Adieu Jack”







* em carne e osso
http://www.ledevoir.com/

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Fim de Linha


Pra dizer que a rua não tem saída, eles escrevem numa placa grandona ‘C* de Saco’. Isso mesmo, o fiofó do pobre. Eu hein?! Depois brasileiro que é desbocado :P



segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Experiência Antropológica II : O Sol

Sim, o sol está quase sempre lá. Quando ele não está é o que chamam de noite. :)Entendam que aqui, o nossa estrela maior nem sempre é quente e disponível durante todo o ano. Quando ele vem com tudo, esquentaaaa que só.
Normalmente, as temperaturas ficam pra lá de positivas, entre 32 °C e qualquer coisa. E olha que a sensação térmica pode chegar a 45 °C. Temperaturas mais altas que estas podem vir em ondas. A tal onda de calor é chamada de canicule. Nesses casos, amplitude térmica – variação dia/noite – não é grande e o mercúrio chega a altitudes impensáveis 38°C ... 46°C (JURO!) dura ao menos 3 dias. Num forno sem vento que faz derreter até pensamento.  É o contrário do invernico – como chamam a onda de frio no meio de um verão no sul do Brasil.
Como o esporte reclamar e reclamar (e reclamar mais ainda) é típico do ser humano... a conversa que sempre surge aqui e ali é: “Que calor hein?” “Vou derreter!” “Que clima horroroso!” É de fazer graça. Se tem muito frio, o negócio é reclamar dele. Se é o oposto,idem. Pra quê? Ora, pra puxar conversa.Ter assunto em comum... Como dar um trago coletivo na realidade que nos cerca. Não já disseram por aí que o ser humano é essencialmente um ser social?  :)
E o sol o que é que traz mesmo? Sorrisos de graça, a abertura de piscinas públicas, riachos secretos para banhos privados, praias de água doce... e a consciência do ciclo vital a que todos nós estamos ligados. Virá o outono, o inverno, a primavera e elezinho de novo. Enquanto essa hipérbole energética se insinua pra gente, a gente se insinua pra ela. Põe vestidinhos, mini-saias, decotes ... exagera em bebidas geladas. Faz piquenique, solta pipa no parque. E...joga conversa fora. Ah, mas isso eu já faço por aqui né? Faça chuva ou faça solis.


Praia docinha  na região de Laurentides

Olha o Sol chamando um sorriso

Crianças brincando de "enganar o calor na praça"

Flagra de sorriso em plena canicule

É... até o salva-vidas saiu do posto pra se jogar no rio:)

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Experiência Antroplógica I : Poutine

Desta fez não recorri ao Google – selva eletrônica de tudo e de todos – para saber a real origem da poutine. Perguntei por aí. Ao parar numa fila qualquer, no metrô, ao ser abordada com o clássico “de onde você vem” {sotaque,eu? ;)} num restaurante, na casa de algum québecois. “De onde vem a tal da poutine, mesmo?”.
A resposta mais comum é que o prato (mistura de batatas com molho e queijo) é resultado de um improviso. Um prato gorduroso e robusto (haja caloria,viu?) para dar energia pro inverno. No fundo, nada nada realmente ‘científico’ e definitivo. Não queria uma resposta catedrática. Sim uma resposta que vinha do imaginário popular. Que tivesse gostinho de mistério e que me fizesse perguntar em silêncio...”Será?”
A 'história' de que mais gostei foi de que um viajante, tipo um caixeiro viajante, sabe? Estava num restaurante de beira de estrada esperando que sua refeição ficasse pronta... o pedido demorava a chegar, no que ele sentenciou: “put it in”. No velho estilo "coloca tudo junto que vou comendo no caminho " .Então, queijo, batata e molho, tiveram seu destino mudado. Foram saculejando pela estrada num súbito de quem tinha mais o que fazer. Estorinha boa, né? Ouvi essa conversa na versão caminhoneiro também. Todas dizendo que o sujeito apressado era anglófono e a palavra foi sendo afrancesada na cadência québecoise.
Me fez lembrar que os pratos típicos em algumas culturas (duas, ao menos) são sempre celebrados como resultado de um improviso que deu certo. Talvez por serem claro retrato de alguma mistureba boa e colorida. Como a paella espanhola e nossa queridíssima feijoada. Nossa feijoada, também cantada aos quatro ventos como resultado de improviso dos escravos africanos, de fato não o é. É uma incorporação do cassoulet francês, criado no século XIV, feito com feijão branco. O que fizemos foi colocar um feijão marrom ou negro. É que “desde a Antiguidade, os europeus latinos faziam cozidos de mistura de legumes e carnes”*.Ou seja, desde o Império Romano...
Quem sabe a Poutine foi inventada pelos vikings e deixada como herança aos primeiros, segundos ou terceiros povos?Ou ainda, era uma receita de parte do clã  dos ‘Putin’ (do ex-presidente e primeiro ministro russo) que veio fugido da revolução de 1917 e... foi afrancesada com o tempo? :P
O fato é que o prato foi democraticamente incorporado a quase todos os gêneros de restaurantes. Há também – claro – estabelecimentos em que ela reina sozinha. Os gigantes Mc Donald’s e Burguer King também a tem no cardápio. Imagina se eles fazem isso com o acarajé e o abará na Bahia. Já pensou?




A 'poutininha' clássica : molho, batata e queijo...nham-nham

 

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Com estrelas na boca

 A música do francês daqui – também chamado de sotaque ;) – eu já posso classificar de francês com estrelas na boca. Parece que com quando o ‘t’ ou o ‘s’ vêm à boca, eles surgem nas palavras como estalos, faíscas mesmo. Como se o interlocutor estivesse com estrelas na boca. As palavras cintilam (fenômeno mais visível no inverno) e as estrelas se cutucam fazendo um som característico e bem tipicamente quebequense. Me deem licença para puxar o quadro negro e ser mais didática:

Phonétique
T s  e  Dz  
Forme écrite                                   Pronunciation
Tu manges du pain                       Tsu manges dzu pain
Étudier                                            étsudzier
Mardi                                              mardzi

Achei que a impressão de estrelas que se cutucam no céu da boca, fosse coisa do meu ouvido, mas fiquei satisfeita ao ler a gramática do curso de francês para recém chegados e falei de cara pra mim mesma: “ahã”! Ela não fala textualmente em estreeelaas (qual é, gente?), mas a fonética dá uma ideia divertida dos pequenos choques...o tal ‘cutucar’ de que falei antes.  Humrum...claro, existem outras maravilhas musicais no falar deles, mas essa é a que eu acho mais bonitinha de ver – e de ouvir.
Ainda tem mais :P eles gostam mesmo de estrelas, viu? Em todo elevador que se preze, temos elas desenhadas para indicando o andar térreo dos edifícios. Chamados aqui de rez-de-chaussée. E fica uma fofura: um estrela com as iniciais RC, lembrando a logo do Rei Roberto Carlos. Na minha mente surgem logo as primeiras melodias de Emoções “Quando eu estou aqui, vivendo esse momento lindo”. Tenho quase sempre que segurar a gargalhada, se tenho algum companheiro (a) de viagem para o próximo andar.


"Tchanã-nãnãnãnã..." Eu não disse?

(Este post bobo faz um convite para a leitura da crônica do Drummond, a “Boca de Luar” de 1984.) Google it!